Cada vez mais crescem as evidências e argumentos de que o açúcar é uma substância que provoca muitos danos à nossa saúde. Atualmente, ele é considerado tão perigoso quanto o álcool e o tabaco.
Um estudo de 2013 realizado no Connecticut College aponta que, pelo menos para ratos, o efeito da cocaína, da morfina ou de uma bolacha de Oreo no cérebro é o mesmo. Outro estudo, no mesmo ano, mostrou que, o açúcar estimula o “centro de recompensa”, amplamente relacionado à dependência química.
Mas discussão sobre os malefícios do açúcar para o nosso organismo começou há mais de 40 anos, com estudos do médico britânico John Yudkin. Em seu livro, “Puro, branco e mortal”, publicado em 1972, ele apontou o açúcar – e não a gordura – como substância responsável pelo aumento de casos de doenças cardiovasculares, além de ligá-lo à obesidade e ao diabetes. Depois de alguns anos, o açúcar foi comparado à cocaína por sua propriedade viciaste no best-seller “Sugar blues: o gosto amargo do açúcar”, do americano William Dufty.
A partir de 2009, o pediatra americano Robert Lustig, professor do departamento de endocrinologia da Universidade da California contribuiu com uma informação bastante relevante em seus estudos: o açúcar adicionado em produtos alimentícios ultraprocessados é o grande causador do aumento de casos de obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2 no mundo todo. Seus argumentos podem ser encontrados no livro “Fat chance” (2013) e no documentário “Fed Up” (2014), este disponível no Netflix.
O fato é que o consumo do açúcar no Brasil explodiu. Passou de 32 quilos anuais por habitante, nos anos 60, para 55 quilos (ou cerca de 150 gramas por dia) seis vezes mais do que a recomendação da Organização Mundial da Saúde.
Esse crescimento de consumo e de incidência de doenças como obesidade e diabete pode ser relacionado ao comportamento alimentar atual, repleto de produtos industrializados.
Açúcar é um termo genérico para a coleção de carboidratos doces e solúveis, compostos por cadeias de carbono, oxigênio e hidrogênio. Nesse balaio estão arranjos mais simples, como glicose, frutose, lactose e sacarose, e outros mais complexos. Todos os carboidratos são nutrientes que servem como fonte de energia para o corpo. E, portanto, seu consumo moderado faz parte de qualquer dieta razoável que aposte num mix de alimentos. Mas o grande problema, seguindo os estudiosos, é a frutose presente em alimentos ultraprocessados, seja na forma de açúcar comum, seja nas formas mais complexas, especialmente o onipresente xarope de milho.
A natureza oferece a frutose quase sempre combinada com fibras que aumentam o tempo de digestão dos alimentos, fazendo o metabolismo trabalhar em seu ritmo próprio. Sem fibras, a frutose chega ao fígado, onde é processada, muito rapidamente criando u aumento drástico na quantidade de açúcar no sangue. Com o fígado sobrecarregado, o pâncreas passa então a produzir mais insulina, que serve para transformar o açúcar em gordura. em um ciclo vicioso, os níveis elevados de insulina impedem o funcionamento do mecanismo do cérebro que indica saciedade e vão criando cada vez mais resistência no organismo, o que pode levar ao diabetes. Toda vez que o açúcar passar da boca para dentro “livre” da companhia de fibras, ou em dose exageradamente maior do que elas, a resposta do corpo é esse burn out. Metabolicamente falando, vale a mesma regra para um copo de refrigeranteou para um suco de frutas natural, apesar deste último ter vitaminas.
(Fonte: reportagem da revista Trip, leia a íntegra aqui)